segunda-feira, 12 de abril de 2010

O entregador de marmitas


Desde Valinhos, onde nasce em 1910, como João Rubinato, até à São Paulo que canta em seus sambas, Adoniran Barbosa conhece as misérias da vida e a rejeição dos que têm de lutar até à última fibra dos ossos para ter seu talento reconhecido. Não foi fácil a vida para o sambista.

Abandona a escola cedo, pois não gosta de estudar; nascido de uma família de imigrantes italianos, que busca acertar-se na vida, necessita trabalhar, para ajudar a família numerosa - Adoniran tem sete irmãos. Procurando resolver seus problemas financeiros, os Rubinato vivem mudando de cidade. Moram primeiro em Valinhos, depois Jundiaí, Santo André e finalmente São Paulo.

Em Jundiaí, conhece seu primeiro ofício: entregador de marmitas. Aos quatorze anos, ainda criança, o encontramos rodando pelas ruas da cidade e, legitimamente, surrupiando alguns bolinhos pelo caminho. A matemática da vida lhe dá o que a escola deixou de ensinar: uma lógica irrefutável. Se havia fome e, na marmita, oito bolinhos, dois lhe saciariam a fome e seis a dos clientes; se quatro, um a três; se dois, um a um. O aprendizado se completa, nas diversas atividades exercidas por João. Foi pedreiro, garagista, mascate, encanador, garçom, metalúrgico...

Mais tarde faria Vide verso meu endereço, samba gravado em 1974, já no final da vida – Adoniran morre em 1982 - no qual fala de situação decerto observada em suas andanças pelas ruas das cidades em que viveu. Em forma de carta, o samba diz:

Venho por meio dessas mal traçadas linhas
comunicar-lhe que fiz um samba pra você,
no qual quero expressar
toda minha gratidão
e agradecer de coração
tudo o que você me fez.

O dinheiro que você me deu
comprei uma cadeira lá
na Praça da Bandeira.
Ali vou me defendendo,
pegando firme dá pra tirar
mais de mil por mês.

Casei, comprei uma casinha linda
lá no Ermelindo.
Tenho três filhos lindos,
dois são meus, um de criação...

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